Educação x futebol: dupla de Bahia e Vitória trocou a faculdade pela bola

4 de dez. de 2012

Danny Morais e Pedro Ken concluíram o Ensino Médio e começaram cursos na universidade, mas cederam à paixão pelo futebol.

 

header BA x VI - base (Foto: infoesporte)
Os candidatos a jogadores de futebol fazem, ainda no final da infância, uma difícil escolha: seguir exclusivamente no mundo da bola ou se dedicar aos estudos, abandonando o esporte. A maioria escolhe a primeira opção e, independente de dar certo, deixa a escola em segundo plano.

O número de jogadores profissionais que conseguem concluir o Ensino Médio é baixo. Porém, há quem consiga conciliar os estudos com a bola e tentar ir ainda mais longe. Enquanto centenas de jovens de Bahia e Vitória lidam diariamente com a celeuma de deixar a escola pela dedicação integral ao esporte, dois exemplos nos clubes mostram que, neste caso, a escolha não precisa ser necessariamente uma renúncia.
Danny Morais (Foto: Divulgação / EC Bahia)Na hora H, Danny Morais trocou a faculdade pela bola
(Foto: Divulgação / EC Bahia)
Nascidos no sul do país, em Porto Alegre e Curitiba, respectivamente, Danny Morais e Pedro Ken são os exemplos a serem seguidos nos campos baianos. Bom aluno desde os primeiros anos da escola, Danny Morais não deixou que a paixão pelo futebol colocasse em segundo plano a importância dos estudos. Desde cedo, o estudioso Danny mostrou nas notas que a escola era muito mais do que uma obrigação.

- Eu sempre tirava boas notas na escola. Sempre estudei em bons colégios. Diferente da maioria dos jogadores, eu venho de uma família que já tinha algumas condições, então sempre me deu condições boas de estudo, e eu me orgulho muito disso – relembrou o zagueiro do Bahia ao GLOBOESPORTE.COM.
No mesmo estilo e incentivado pela família, Pedro Ken viu nos livros uma oportunidade de crescer sem deixar de lado o futebol. Ele passou a dividir os estudos com a prática, ainda nas quadras.
- Minha família sempre me incentivou a estudar. Minha vida inteira estudei em colégio particular. Eu jogava futebol de salão, ganhava parte da bolsa da mensalidade e meus pais pagavam o resto. Minha mãe e meu pai sempre fizeram um esforço muito grande para que eu tivesse uma boa educação. Meus pais são graduados e queriam a melhor educação para mim. Minha mãe é psicóloga e meu pai é engenheiro eletricista. Meu irmão acabou de se formar em Administração na Federal do Paraná – contou à equipe de reportagem.
Ken chegou ao Coritiba ainda criança, mas isso não o impediu de continuar estudando. Assim como Danny, o meia do Vitória também era um jovem de boas notas no colégio. E assim foi nos outros sete anos seguintes até a período do vestibular.
- Cheguei ao Coritiba com 10 anos. Eu dividia o futebol com o estudo. Era bem puxado, já que meu colégio era muito bom. Mas eu nunca fui para uma recuperação. Quando chegou na época do vestibular, passei de primeira na PUC, no curso de Educação Física. Fui super bem na prova. Tive uma boa colocação - conta Pedro Ken.
Danny Morais lembra as dificuldades da época do vestibular, já que precisava administrar estudos e rotina de treinos. Ainda assim, o jogador conseguiu uma aprovação e entrou na universidade. No entanto, precisou deixar o Ensino Superior para se dedicar ao futebol.
- A época do vestibular foi bem difícil, cara. Era treinamento de manhã e de tarde, e de noite ainda tinha que ir para a aula. Era complicado. Eu acabei passando no primeiro vestibular que eu fiz para Educação Física. E só não me formei devido a essas mudanças de cidade e mudanças de rotina. Mas já fiz mais da metade do curso e tenho certeza que vou terminar para poder exercer alguma coisa no futuro – disse o zagueiro do Bahia.

Na clube desde 2011, Danny admite que já pensou em continuar os estudos na capital baiana, mas algumas dificuldades impediram, a princípio, a conclusão do curso. Ainda assim, o projeto deve ser retomado em breve.

- Eu não larguei, eu só tranquei. Até vi a possibilidade de estudar aqui na Bahia, mas fica um pouco distante da minha casa. E agora minha esposa está comigo, então resolvi dar um tempo e me dedicar a outras coisas – contou.

Ken também garante que voltará aos estudos. O meia chegou a cursar um semestre, mas, assim como Danny, foi impedido de continuar devido à rotina de treinos, concentração e jogos.
- Escolhi Educação Física, porque é uma área próxima do futebol. Achei que seria tranquilo. Completei o primeiro semestre e passei em tudo. Depois tranquei o período. Era complicado por conta do cansaço. Eu ainda era da equipe júnior do Coritiba, mas já tinha contrato de profissional, e às vezes era escalado para o time de cima. Tive que fazer uma escolha e resolvi me dedicar ao futebol. Mas ainda penso em voltar para terminar a faculdade. Até pensei em fazer à distância, mas depois mudei de ideia. Se for para fazer uma coisa, que seja bem feito. Um dia eu volto e completo meu curso. Ainda não desisti de me formar – assegura o meia que ajudou o Vitória a voltar à Série A.
pedro ken, meio-campo do vitória (Foto: Felipe Oliveira/EC Vitória/Divulgação)Pedro Ken passou 'de primeira' no vestibular (Foto: Felipe Oliveira/EC Vitória/Divulgação)
Apesar de deixar a faculdade, a dupla segue antenada e tenta diminuir a distancia da educação com os livros.
- Gosto bastante de ler. Sempre que posso, leio livros. Acho que já virou uma prática da minha vida. Mas, se for um livro que eu não vou gostar, pode deixar lá. Gosto de coisas que me atraiam, mas não gosto muito de ficção. Gosto de mais coisas da realidade, de biografias, coisas que me atraiam – conta Danny.
- Eu gosto muito de biografias. Meu pai lê algumas e me indica. Terminei recentemente a do Kelly Slater. Agora comecei a do [Rafael] Nadal. Também estou lendo “Profecia Celestina”, de James Red Field, e “Cem anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez – diz Ken.
Vestindo cores diferentes, Ken e Danny mostram consciência de grandes campeões e afirmam que o estudo é fundamental mesmo para os atletas que querem chegar ao profissional. Como exemplo, Ken lembra o Doutor Sócrates, gênio dentro e fora dos campos.
- Acho que o estudo é importante para tudo. Ter uma base, uma educação é fundamental para várias situações da vida. No futebol mesmo, é preciso se expressar bem. Influencia muito ter um bom conhecimento, cultura. O estudo é coisa para a vida toda e não prejudica, só faz acrescentar. O Sócrates era um fenômeno. Estudava Medicina e jogava futebol. Tem que ser duro para conseguir essa façanha. É muito complicado. O cara tem que ser muito bom – disse Ken.
danny morais botafogo (Foto: Gustavo Rotstein / Globoesporte.com)Danny Morais mantém projetos paralelos na carreira
(Foto: Gustavo Rotstein / Globoesporte.com)
Para Danny, as mudanças na sociedade já obrigam os jogadores a se tornarem cada vez mais cultos. O defensor ainda destaca que, para ele, o grupo do Bahia tem um grande números de jogadores que seguem a mesma linha de pensamento em relação a educação.

- Acho essencial o estudo para quem tem a carreira de jogador. Eu penso em fazer coisas pós-carreira. Tenho outros projetos paralelos ao futebol. O futebol está mudando, essa figura de que o jogador é burro e que vinha do nada, ficava rico e gastava tudo já não é tolerada. Jogadores indisciplinados não conseguem jogar, jogadores que não sabem se expressar não chegam longe. Acho que é uma tendência. No nosso próprio grupo aqui, temos jogadores que falam muito bem. Às vezes nem tiveram o estudo necessário, mas a vida ensinou, e são exemplos até para mim – contou o zagueiro.

Desde a última segunda-feira, o GLOBOESPORTE.COM publica uma série com cinco reportagens sobre a relação da escola com Bahia e Vitória, os principais clubes baianos. Nesta quarta-feira, você confere um bate-papo com Emerson Ferretti, ex-goleiro e ídolo de Bahia e Vitória, e que durante toda a carreira de jogador nunca deixou de se dedicar aos estudos.
 
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